28 junho 2006

Sem som...


























Encontro nas palavras refugio
Oculto a sombra sem deixar rasto
Mas as frases denunciam
Olho o tempo do meu tempo
Apago-o num recomeço
E venço-o por cansaço...( mentira)
Desperto no silêncio
Encontro-me (desejo-me)
Consagro o meu ser
Libertando o medo...
Os sons nulos (meus)
Agem como terapia...
Descubro ondas enigmáticas
Que me excitam
Exponho o meu delírio
Num ritmo carnal
Embriagada num cio emulado
Mas o tempo volta
Cruel e impiedoso
Com a clara visão de um estado nulo
Esbofeteando a razão da minha utopia...
E...
Escondo... fugindo de mim.
Sou tudo aquilo que não escolhi
Lamento ser assim
Uma imagem do tempo... sem som...



Scorpio

25 junho 2006

E eu observo...

















Noites camufladas pelo nevoeiro
Urdindo escondidos na penumbra
Celerados sobreviventes
Nos sorrisos anómalos
E eu observo...
Um enredo de sonho
Viciante num delírio
Onde a presa será imobilizada
O sangue latejará
Num pânico mortífero
Ignorando a dor...
A dor...
Estado sentido
Nas frequências da vida
E o que é a vida
Sem o sentir
Um projecto resistente
Num estado presente
Ansiando... morrer...
Ou ser apenas um ser

Como tantos outros parasitas...

Scorpio

22 junho 2006

Desígnios...






















Sopras escondido rasgando obstáculos
O teu silêncio turbulento
Fere... arrastando nostalgias
Sinto as lanças cravadas
Dores escondidas...
Abro a mão e seguro o ar
Esmago o ódio do passado
Crescendo na força do ser...
Dói tanto ...
Sorrio morrendo
Revelo a força que não tenho...
Sou desígnio do estar
Aparente bloco impoluto
Abafado na razão
Ergo-me...
Caminho num trilho conhecido
Dou voltas e voltas
A cada passo enterro o desequilíbrio
Mas...
Abro os olhos...
Sinto-te...
Roças o meu corpo
Marcando a tua presença...
Somos únicos...
E nesse delírio entrego-me
Num dilúvio sangrento
Saciando-te...

Sou tua...


Scorpio

20 junho 2006

Reflexo...



















Olhei o meu rosto no reflexo da agua
Distorcido na corrente
Fazia de mim a ilusão do que sou
Talvez a melhor imagem...
Senti vontade de me conhecer
Mergulhar em mim
Senti vontade de nascer
Deixar de me ver assim...
Sou a ilusão do não real
Menina... mulher
Escondo a essência
Libertando nas letras um rasto sombrio
Afago as lágrimas da vida
Com sorrisos pérfidos
Amarguro percursos dos resistentes
Dissimulando a verdade
A minha verdade
O meu reflexo
Sou a dúvida da visão
A eterna vontade do ser
Que vive por viver...



Scorpio

16 junho 2006

Ar...




















Senti a queda, voei sem asas e cai no chão...
O corpo rasgado vertia o seu interior
A dor súbita adormeceu...
Silêncios ocultavam o pânico das vozes
Todos os rostos de terror
Saíram da minha visão
O espaço circundante... fosco
Libertava-me o peso
Tudo parecia flutuar
Mas...
Sentia-te perto
Num ritmo apagado... trémulo
O abraço foi real
Não digas que não...
Inspirei forçada...
Pressionada... sem me perguntarem nada
As luzes... o ruído...
Voltei ao sentido... sem ti
Sem ti...
E para quê...

Respirar novamente o ar dos outros...


Scorpio

11 junho 2006

Sometimes...

Deitada num espaço insensível sinto o cheiro inebriante... flutuo liberta no sentir e deixo-me envolver ao acaso...
Os dedos dormentes revelam o enlevo do meu estado, rebolo no vento sentindo os braços que me sustem... estou ausente de tudo entregue num bailado sem som ... sigo o ritmo que me domina movida pela consciência cega... O horizonte vestido de negro deixa escapar por uma fenda no tempo o vermelho do seu interior, a capa que o cobre remendada pela motricidade da vida revela as chamas do próximo dia... Será tudo fruto da minha ausência ou vejo o real camuflando o que me assombra... porque uso as palavras apagando o caminho da minha realidade, porque me deixo afogar nos porquês da minhas atitudes... porque não sinto o vento, os braços... o cheiro... não sinto nada e procuro-te todos os dias... apaguei na memória o alimento do meu estado real... o espaço sólido não me deixa flutuar... bloqueando o meu envolver nas danças dos sentidos... sobrevivo lúcida mesmo inconsciente... e sem saber porquê...


Scorpio

10 junho 2006

Fluídos...

















Sou eu...
Não nego a vontade
A ousadia do querer
Perdi-me no ritmo
Na volúpia do meu desejo
Sou eu...
Quebrei o gelo do tempo
Derreti na tua boca
O néctar divino
Do meu prazer
Sou eu...
A tortura do ser
Irreconhecível no olhar... mas
Despida a cada palavra
Expondo as formas
Sou eu...
No segredo
Num sussurro
Embriagada na noite
Suando num orgasmo
No delírio dos fluídos
Expulsos do corpo

Sou eu...

Scorpio

Horas... eternas






















Com os olhos... fixos no tempo
Cegos no amanhecer
Permaneciam abertos... horas
Quanto tempo?
Uma vida acordada
Vida...
As metástases do vurmo
Consumiam a vontade
O corpo secava paralisando
Rasgando a corrente dos elos fixos
Tudo se comprimia
Numa dor aguda
Uma espera atormentada
Horas que não findavam...
Vida...
Janela de uma visão

Que aguardava sentir o frio...



Scorpio

08 junho 2006

***************





















Amarrei o pensamento
Embriaguei-me nos sentidos
Achando que tudo tem o seu tempo
Quimeras...
Flutuei desarmada na queda
Encontrei o espelho
Imagem do irreconhecível
Perversa ...
Anéis de luzes circulares
Deturparam a visão
Senti o asfalto repugnar
Náusea...
Síncopes no delírio
Consciente do vício
Da solidão... eterna
Limbo...
Hálito pavoroso
Sobrevivente pútrido
Num éden mundano
Renuncia...


Scorpio

05 junho 2006

Caos...




















Subo as escadas do meu cérebro tentando encontrar o patamar, os círculos são miragens de uma escada em caracol, sinto o delírio fingido tomar conta das pulsações alucinando os pés numa dança de tonturas... o equilíbrio derruba-me levando o corpo numa queda sem fim. O ar bate-me rasgando o peito, sou exposta num buraco negro revelando o meu sangue... Grito, tenho medo... Os meus ecos são mudos. Estou presa a um mundo flutuante na corda do caos.
Aceito na revolta contida o estado regente numa tertúlia de sombras, pedaços mundanos de gente causticada em recintos oprimidos... faço do silêncio a minha linguagem tentando sobreviver num conceito de vida defunta ...
Abutres famintos rodeiam cada palavra na espera da sua decomposição...
E agora?? Como trepar na lógica deste estado ausente. Escalar as paredes de um chão guardado por fendas víricas ...

Encontrei o patamar do degredo... vestido de branco.


Scorpio


04 junho 2006

(...)


















"Se queres viver, prepara-te para morrer."
Freud

03 junho 2006

Registos




















Coloco o peso das letras nas mãos
Sento-me na areia queimando o olhar
Letra a letra... mato registos
Eternizando-os em cinza
O prazer das chamas
Degustando contextos
Dos quais não entendo...
Mato-os...
Queria um espelho
Para ver o rosto reflectido
A verdadeira imagem
De uma raiva exposta
Sim... raiva
Estou possuída
Numa angustia sem sabor
Num delírio infernal

Ao ritmo da morte...

Scorpio